domingo, 26 de junho de 2011

Ainda uma vez, adeus



Enfim te vejo! - enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!
                      II
Dum mundo a outro impelido,
Derramei os meus lamentos
Nas surdas asas dos ventos,
Do mar na crespa cerviz!
Baldão, ludíbrio da sorte
Em terra estranha, entre gente,
Que alheios males não sente,
Nem se condói do infeliz!
                      III
Louco, aflito, a saciar-me
D'agravar minha ferida,
Tomou-me tédio da vida,
Passos da morte senti;
Mas quase no passo extremo,
No último arcar da esperança,
Tu me vieste à lembrança:
Quis viver mais e vivi!
                      IV
Vivi; pois Deus me guardava
Para este lugar e hora!
Depois de tanto, senhora,
Ver-te e falar-te outra vez;
Rever-me em teu rosto amigo,
Pensar em quanto hei perdido,
E este pranto dolorido
Deixar correr a teus pés.
                      V
Mas que tens? Não me conheces?
De mim afastas teu rosto?
Pois tanto pôde o desgosto
Transformar o rosto meu?
Sei a aflição quanto pode,
Sei quanto ela desfigura,
E eu não vivi na ventura...
Olha-me bem, que sou eu!
                      VI
Nenhuma voz me diriges!...
Julgas-te acaso ofendida?
Deste-me amor, e a vida
Que me darias - bem sei;
Mas lembrem-te aqueles feros
Corações, que se meteram
Entre nós; e se venceram,
Mal sabes quanto lutei!
                      VII
Oh! se lutei!... mas devera
Expor-te em pública praça,
Como um alvo à populaça,
Um alvo aos dictérios seus!
Devera, podia acaso
Tal sacrifício aceitar-te
Para no cabo pagar-te,
Meus dias unindo aos teus?
                      VIII
Devera, sim; mas pensava,
Que de mim t'esquecerias,
Que, sem mim, alegres dias
T'esperavam; e em favor
De minhas preces, contava
Que o bom Deus me aceitaria
O meu quinhão de alegria
Pelo teu, quinhão de dor!
                      IX
Que me enganei, ora o vejo;
Nadam-te os olhos em pranto,
Arfa-te o peito, e no entanto
Nem me podes encarar;
Erro foi, mas não foi crime,
Não te esqueci, eu to juro:
Sacrifiquei meu futuro,
Vida e glória por te amar!
                      X
Tudo, tudo; e na miséria
Dum martírio prolongado,
Lento, cruel, disfarçado,
Que eu nem a ti confiei;
"Ela é feliz (me dizia)
"Seu descanso é obra minha."
Negou-me a sorte mesquinha...
Perdoa, que me enganei!
                      XI
Tantos encantos me tinham,
Tanta ilusão me afagava
De noite, quando acordava,
De dia em sonhos talvez!
Tudo isso agora onde pára?
Onde a ilusão dos meus sonhos?
Tantos projetos risonhos,
Tudo esse engano desfez!
                      XII
Enganei-me!... - Horrendo caos
Nessas palavras se encerra,
Quando do engano, quem erra.
Não pode voltar atrás!
Amarga irrisão! reflete:
Quando eu gozar-te pudera,
Mártir quis ser, cuidei qu'era...
E um louco fui, nada mais!
                      XIII
Louco, julguei adornar-me
Com palmas d'alta virtude!
Que tinha eu bronco e rude
C'o que se chama ideal?
O meu eras tu, não outro;
Stava em deixar minha vida
Correr por ti conduzida,
Pura, na ausência do mal.
                      XIV
Pensar eu que o teu destino
Ligado ao meu, outro fora,
Pensar que te vejo agora,
Por culpa minha, infeliz;
Pensar que a tua ventura
Deus ab eterno a fizera,
No meu caminho a pusera...
E eu! eu fui que a não quis!
                      XV
És doutro agora, e pr'a sempre!
Eu a mísero desterro
Volto, chorando o meu erro,
Quase descrendo dos céus!
Dói-te de mim, pois me encontras
Em tanta miséria posto,
Que a expressão deste desgosto
Será um crime ante Deus!
                      XVI
Dói-te de mim, que t'imploro
Perdão, a teus pés curvado;
Perdão!... de não ter ousado
Viver contente e feliz!
Perdão da minha miséria,
Da dor que me rala o peito,
E se do mal que te hei feito,
Também do mal que me fiz!
                      XVII
Adeus qu'eu parto, senhora;
Negou-me o fado inimigo
Passar a vida contigo,
Ter sepultura entre os meus;
Negou-me nesta hora extrema,
Por extrema despedida,
Ouvir-te a voz comovida
Soluçar um breve Adeus!
                      XVIII
Lerás porém algum dia
Meus versos d'alma arrancados,
D'amargo pranto banhados,
Com sangue escritos; - e então
Confio que te comovas,
Que a minha dor te apiade
Que chores, não de saudade,
Nem de amor, - de compaixão. 

                                                           (Gonçalves Dias)






quinta-feira, 9 de junho de 2011

Ó doce inspiração

Ó doce inspiração
Por que me abandona?
Por que só me visita quando queres?

Ó doce inspiração
Porque tens vontade própria?
Porque me deixas quando preciso de ti?

Inspiração, amiga!
Fique,
E alimente meu poema,
Minha canção
Meu amor
Minha vida
Meu silêncio

Inspiração, prometa!
Nunca vá embora.


"Eu sou o beijo da boca do luxo na boca do lixo"
- Cazuza

terça-feira, 7 de junho de 2011

Dono do mar sem lei

Morrem ao descaso
Sonhos, metas, motivos
Morrem ao descaso
Vidas, projetos, sentidos

Vivem a beira do abismo
Terra sem lei
Terra do mar

Nada criticam
Nada opinam
Nada sabem
O dono do mar não poupa ninguém
A tudo faz vista grossa

Jovens, despertai-vos!
Lutai-vos contra o inimigo

Avante!









segunda-feira, 6 de junho de 2011

Silencie

Quando o mundo não mas te olhar
E a tristeza tende a te perturbar
Quando todos te julgarem
E as esperanças cessarem

Silencie

Quando as portas se fecharem
O coração se endurecer
A felicidade se esconder

Silencie

E quando você não mas se encontrar
Verás, que existe um Deus a te amar

Busque em ti o silencio de tua alma
Cale! E tu te ouvirás!

domingo, 5 de junho de 2011

Estranho mundo poético


Poesia Pintada
Não me chame de amor
Não banalize uma palavra tão bela
Um dom puro
Que provém do alto

Não tente me manipular
Não tens talento pra isso
Não conseguirás
Tenho a manha
Saco tudo e salto fora

Num giro alto
Mando-me pra fora do seu mundo
Sofro por solidão durante uns meses
E depois passa
Sempre passa

Quanta mentira acabo de escrever
Sentimentos que não sinto
E só sei escrever

Há muita mentira nas poesias
Medos
Angustias
Insonias
E loucuras perseguem a poetisa

A menina que sonha
E teme
A menina que acredita
E teme
A menina que ama
E teme

Ela tem alma de anjo
E é protegida por um arcanjo
Miguel,
Poderoso e fiel

Poesia sem véu



Poesia sem véu

Atiça em mim
Minha delicia
Insensatez

Incendeia em mim
Meu doce e amargo mundo
De fantasia e malvadez

Outrora
O que era medo
Se tornou desejo
O que era alegria
Se tornou tormento e dor

Do riso um choro
Do choro um riso

Que é isso? - Interrogou-se a senhora Consciência
É aquilo. - Constatou o Coração:
Poesia.